30/8/2005
Boi mais gordo para abate atiça ira dos argentinos

Preocupado com a alta do custo de vida, o governo da Argentina tomou nesta semana uma medida que enfureceu os produtores de gado bovino e que deve provocar uma queda na qualidade do produto consumido pela população do país.



Em uma iniciativa para aumentar a oferta de carne bovina no mercado doméstico, as autoridades determinaram, na última quarta-feira (18/08), que a partir de 1º de novembro será proibido o abate de gado bovino com peso inferior a 300 quilos. A medida valerá por seis meses a partir de sua entrada em vigor.



Atualmente, o peso médio do boi abatido na Argentina não passa dos 220 quilos, o que dá à carne local as características de maior maciez e menor quantidade de gordura. "Com a mudança vamos ter um produto diferente, mas quem quer consumir uma carne mais macia deveria ter o direito de optar", disse Ernesto Ambrosetti, economista-chefe da SRA -?Sociedade Rural Argentina, entidade mais tradicional do setor agropecuário do país.



Ambrosetti explicou também que para a carne bovina que é exportada não deve haver alterações das características, já que neste caso os animais abatidos já têm um peso mais elevado, que varia entre 400 e 450 quilos.



A principal reclamação por parte dos pecuaristas é que o maior tempo de engorda necessário para que o animal chegue ao peso mínimo - 300 quilos - vai minar a rentabilidade do produtor, já que os custos com alimentação devem crescer.



Na quinta-feira (25/08), a SRA e outras cinco entidades agropecuárias emitiram um comunicado conjunto em que qualificam a medida oficial como "simplista e que claramente vulnera a liberdade de comércio, limitando a venda da produção de carne e impondo-se sobre as decisões privadas dos produtores".



De acordo com pecuaristas argentinos, a nova norma determinada pelo governo será de difícil fiscalização e vai estimular a venda clandestina de carne, "provocando uma competição desleal que prejudica a todos".



O ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, e o secretário de Agricultura, Miguel Campos, explicaram que o objetivo do governo é aumentar a oferta de carne bovina no mercado interno para que haja redução do preço de venda ao consumidor e menor impacto na inflação. Na Argentina, a carne bovina é um produto consumido em grande quantidade por todas as camadas sociais.



Nos últimos meses, o índice de inflação na Argentina vem apresentando alta, e a expectativa é que a taxa chegue a 11% em 2006. O governo do país vem tentando conter os aumentos com acordos setoriais, principalmente para o setor de alimentos. A questão é particularmente sensível porque a Argentina terá eleições parlamentares em 23 de outubro.



O ministro Miguel Campos afirmou que se a medida não funcionar, o governo lançará mão do aumento do imposto cobrado sobre as exportações de carne, atualmente em 5%, o que poderia deter o crescimento das vendas externas do país.

Até maio deste ano, a Argentina havia exportado 286 mil toneladas de carne, uma quantidade 41,7% superior ao volume embarcado nos cinco primeiros meses do ano passado. Apesar da expansão das exportações, elas ainda absorvem uma parte pequena da produção total, já que os argentinos consomem 80% da carne que produzem.

Fonte: Valor Econômico

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